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TRAJANO GALVÃO

( Maranhão – Brasil )

 

Nasceu na Vila de Nossa Senhora de Nazaré, Maranhão, em 19 de janeiro de 1830.  Formou-se em Direito no Recife, em 1855. 
Sua escassa produção encontra-se reunida em Três liras  (1862), juntamente com os poemas de Marques Rodrigues e de Gentil de Almeida Braga.
Posteriormente, teve publicadas as Sertanejas (1898), com prefácio do conterrâneo Raimundo Correia.
Morreu em São Luís, Maranhão, em 14 de julho de 1864.

 

ROMANTISMO / seleção e prefácio Antonio Carlos Secchin.  São Paulo: Global, 2007.  (Coleção roteiro da poesia brasileira. Direção: Edla van Steen.)                           Ex. bibl. Salomão Sousa

 

O CALHAMBOLA

            ( Olinda, 1854)

 

Aqui, só, no silêncio das selvas
Quem me pode o descanso vedar?
Durmo à noite num leito de relvas,
Só a aurora me vem despertar.
Ante a onça, que afoita anda a corso,
Mais afoito meus passos não torço,
Nem é dúbia uma luta entre nós.
O bodoque a vez supre da bala,
Toda a mata medrosa se cala,
Quando rujo medonho na voz.

Tenho fome? A palmeira se verga,
Seus coquilhos alastam o chão,
E debaixo a cutia se enxerga
Assentada comendo na mão;
Se as entranhas se abrasam sedentas,
Tu, ó terra, mil fontes rebentas,
Como as fontes do leite à mulher!
Num terreno tão farto e maduro,
Quem lá pode cuidar no futuro,
Quem de fomo ou de sede morrer?

Nasci livre, fizeram-me escravo,
Fui escravo, mas livre me fiz.
Negro, sim; mas o pulso do bravo
Não se amolda às algemas servis!
Negra a pele, mas o sangue no peito,
Como o mar em tormentas desfeito,
Ferve, estua, referve em cachões!
Negro, sim; mas é forte o meu braço,
Negros pés, mas que vencem o espaço,
Assolando, quais negros tufões!

Negro o corpo, afinou-se minh´alma
No sofrer, como ao fogo o tambor:
Mas altiva reergue-se a palma
Com o peso, assim eu com a dor!
Como a língua recolhe, pascendo
Tamanduá, de formigas fervendo,
Tal de açoutes cingiram-me os rins,
E eu bramis, qual onça enraivada
Que esbraveja, que brame acuada
Em um circo de leves mastins.

Eu bramia, porém não chorava,
Porque a onça bramiu, não chorou:
Membro a membro meu corpo quebrava,
A vontade ninguém ma quebrou!
Como reina a vontade é que impera,
Aqui dentro só ela dá leis:
Se cometo uma empresa gigante
Co´o bodoque ou coa flecha talhante,
A vontade me brada — podeis—

Oh! que sim! estes ombros possantes
Digno assento da fronte de um rei
Não mos hão de sulcar vis tangentes
Nunca mais... nunca mais que o jurei!
O homem forte que brada aos verdugos
"Guerra, guerra, ou quebrai-me os jugos"
Tem um eco, tem voz lá no céu.
O que a morte não teme, eis o forte,
E mal basta o temer-se da morte,
Quem na vida tormenta correu.

Outros há, cujo peito abebera
O temor como ao peixe o tingui:
Oh! meu Deus! Oh! poder que eu pudera
Acendê-los num raio de mi!
Este sangue, em que bolha o insulto
De um covarde nas veias inulto
Não correra, ou vazara-o no chão!
Mas eu só... maldição sobre a escrava
Que o filhinho pro jugo aleitava,
Sobre ti, minha mãe,, maldição!

Vivo só... pouco fundem meus brios
Contra o número e a força brutal,
Ínvios matos, ocultos desvios
Não me of´recem guarida cabal!
De que vale ao pau-d´arco a rijeza
De seu tronco, que o ferro despreza,
Quando o céu vibra raios a mil?
Oh! se cai... toda a mata retumba!
Pouco importa que o bravo sucumba
Quando a morte é briosa, é viril.

Três liras (1862)

 

A CRIOULA        

Sou cativa... qu´importa? folgando
Hei de o vil cativeiro levar!...
Hei de mim, que o feitor tem mui brando
Coração, que se pode amansar!...
Como é terno o feitor, quando chama,
À noitinha, escondido co´a cama,
No caminho — ó crioula, vem cá! —

Há hi nada que pague o gostinho
De poder-se ao feitor no caminho,
Faceirando, dizer — não vou lá —?

Tenho um pente coberto de lhamas
De ouro fino, que tal brilho tem,
Que raladas de inveja as mucamas
Me sobr´olham com ar de desdém.
Sou da roça; mas sou tarefeira...
Roça nova ou feraz capoeira,
Corte arroz ou apanhe algodão,
Cá comigo o feitor não se cansa;
Que o meu cofo não mente à balança,
Cinco arrobas e a concha no chão!

Ao tambor, quando saio da pinha
Das cativas, e danço gentil,
Sou senhora, sou alta rainha,
Não cativa, de escravos a mil!
Com requebros a todos assombro
Voam lenços, ocultam-me o ombro
Entre palmas, aplausos, furor!...
Mas, se alguém ousa dar-me uma punga,
O feitor de ciúmes resmunga,
Pega a taca, desmancha o tambor!

Na quaresma meu seio é só rendas
Quando vou-me a fazer confissão;
E o vigário vê cousas nas fendas,
Que quisera antes vê-las nas mãos...
Senhor padre, o feitor me inquieta;
É pecados...? não, filha, antes peta...
Goza a vida... esse mimos dos céu.
És formosa... e nos olhos do padre
Eu vi cousa que temo não quadre
Co´o sagrado ministro de Deus...

Sou formosa... e meus olhos estrelas
Que transpassam negrumes do céu
Atrativos e formas tão belas
P´ra que foi que a natura m´as deu?
E este fogo, que me arde nas veias
Como o sol nas ferventes areias,
Por que arde? Quem foi que o ateou?
Apagá-los vou já — não sou tola...
E o feitor lá me chama — ó crioula
E eu respondo-lhe branda: "já vou".

 

             7 de setembro de 1853
            Três liras (1862)

 

*

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Página publicada em maio de 2022


 

 

 
 
 
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